Nos anos 70, o nome Cooper virou sinônimo de corrida e a corrida virou febre nacional. Em entrevista exclusiva, Cooper conta como ajudou a seleção brasileira no mundial do México e também como mantém a forma física aos 73 anos de idade.
Por Aguinaldo Pettinati
Fotos Luiz Doro
running br – Com quantos anos você começou a fazer atividade física?
Kenneth Cooper: Eu já era um atleta na high school júnior, na high school e no colegial. Praticava futebol americano, basquete e corrida. Depois de ingressar na faculdade de medicina, em 1952, fiquei praticamente inativo por oito anos. Então, voltei ao programa de atividades regulares (corrida) aos 29 anos e desde então fui fiel a isso.
running br – Quais atividades físicas você pratica atualmente?
Cooper: Minhas atividades físicas consistem em subir e descer montanhas no verão e esquiar no inverno, mas estou tentando correr entre 18 e 25 quilômetros por semana, apesar de me concentrar mais nas atividades aeróbicas. Estou engajado em fazer atividades físicas agora, primeiramente caminhada rápida e algum jogging. Porém, não tenho tempo para participar de qualquer outro tipo de esporte nem atividade recreativa.
running br – Por que há tantos anos combate o sedentarismo? Já foi em algum momento de sua vida um obeso?
Cooper – Sim, quando eu me formei em medicina e me casei, pesava 109 quilos. Comparativamente, agora estou com 77.
running br – Como desenvolveu o método de Cooper?
Cooper: Trabalhava como cirurgião na força aérea dos EUA e fui escolhido para desenvolver um programa de testes, condicionamento e treinamento para os astronautas da Nasa, priorizando a ida deles ao espaço. Era sobre aqueles programas referentes ao teste de 12 minutos e do ponto de vista aeróbico e como os sistemas dos astronautas se desenvolviam nesse sentido
running br – Como é sua alimentação?
Cooper: Para conseguir manter meu peso de 77 quilos, faço três refeições por dia, distribuo as calorias através do dia e restrinjo a um nível em que eu não ganhe peso. Tento seguir a dieta da American Heart Association, que consiste em 50/55% de carboidratos, 15% de proteína, 25/30% de gordura e menos de 300 miligramas de colesterol por dia.
running br – Você acompanha o trabalho físico do presidente Bush. Como funciona o teste feito para ele?
Cooper: O presidente Bush foi testado usando a mesma esteira que os mais de 80 mil pacientes que vieram à Cooper Clinic para exames nos últimos 34 anos. Depois de sua eleição para presidente, ele me pediu para ir a Washington no fim de cada verão para supervisionar o que está sendo feito no Betesda Medical Center.
running br – Como foi a experiência com a Seleção Brasileira de Futebol em 1969?
Cooper: Tive o privilégio de trabalhar com o capitão Cláudio Coutinho (responsável pelo treinamento físico da Seleção, que se preparava para a disputa da Copa do Mundo do México, em 1970). Foi meu contato inicial com o time. Ele estudou o método de Cooper, introduzindo-o no time, e acredito que esse deve ter sido um dos fatores que levaram a equipe à conquista do tricampeonato mundial na ocasião.
running br – O que mudou no teste de Cooper de lá para cá?
Cooper: O teste mensura o trabalho cardiovascular no fitness e não foi alterado, mesmo passados 34 anos. O teste de 12 minutos é aplicado no início para saber o estado do atleta e depois no término de toda preparação para avaliar a evolução do atleta.
running br – O teste ainda pode ser utilizado?
Cooper: O teste pode ser usado e até um pouco alterado para facilitar sua aplicação. O método dos 12 minutos é obrigatório para aqueles que querem se tornar árbitros ou bandeirinhas para os eventos da Copa do Mundo. O padrão é de 2.800 metros em 12 minutos, e ainda muitos militares, times e universidades usam o programa para medir os atletas; é parte do fitnessfram, um teste usado pelas escolas em crianças.
running br – Você fez um bom trabalho com o maratonista Jonhy Kelly, um corredor que começou um pouco tarde, quando todos os outros paravam de correr. Como foi isso?
Cooper: Meu primeiro contato com ele foi em 1961. Estava em Boston estudando para meu mestrado em saúde pública em Harvard quando Kelly foi apresentado a mim por um amigo em comum. Eu comecei a treinar com ele, particularmente nos fins de semana, para a preparação para a Maratona de Boston de 1962. Ele continua a ser um grande amigo, e mesmo depois de vários anos passava regularmente pela Cooper Clinic para fazer alguns exames. Ele se aposentou das maratonas em 1993, com 84 anos.
running br – Fale sobre as atividades físicas de longa duração, como a maratona.
Cooper: Quando se corre uma maratona, você está concentrado em terminá-la. Durante o caminho, é importante estar atento à hidratação, determinar seu ritmo, não se cansar muito rapidamente. Para não se desgastar cedo, é preciso ouvir seu corpo. A preparação para a maratona inclui um carregamento completo de carboidratos, vitaminas e sais minerais como suplementação. Não adianta apenas treinar os membros inferiores. Treine direito seu corpo todo, principalmente a parte superior, pois isso é um importante item do sucesso de uma corrida de maratona.
running br – No Brasil, Cooper virou sinônimo de corrida. Essa associação ainda é feita?
Cooper: Sim, em vários países, mas, particularmente na América do Sul, Cooper e jogging são termos sinônimos. Cooper tem sido usado mais freqüentemente e por um longo período no Brasil.
running br – O que é melhor: correr ou caminhar?
Cooper: Queira você andar ou correr, dependerá dos objetivos de seu programa de condicionamento, idade e mesmo habilidade atlética. A grande vantagem de correr é que você tem mais benefícios aeróbicos num período menor de tempo do que andando, mas há um impacto maior nas juntas e nos ligamentos. Andando a pelo menos 12 minutos por milha a aproximadamente 9,5 km/h, você terá a mesma energia despendida. Andar rapidamente requer movimento extensivo dos braços, mas pode ser igualmente efetivo sem problemas musculoesqueléticos. Eu tenho sido acusado de dizer que não é recomendado correr nem fazer jogging, e isso não é verdade. Aos 73 anos, ainda gosto de jogging. Alguns problemas em meu joelho direito me impedem de grandes desempenhos, mas, ouvindo meu corpo, sou capaz de fazer o Cooper test e ainda adoro a maravilhosa saúde.
running br – As crianças americanas estão muito obesas?
Cooper – Depois de duas décadas, a obesidade em crianças americanas quase triplicou e, com isso, surgiram problemas como uma epidemia de diabete em crianças e aumento do número de hipertensos. Muitos acham que o resultado da obesidade em crianças deriva de quatro fatores: não há programas de educação física nas escolas, as crianças não costumam andar nem ir de bicicleta para a escola, elas gastam 35 horas ou mais por semana assistindo à televisão, jogando videogame ou sentadas na frente do computador e, por último, comem freqüentemente em restaurantes de fast food, ou seja, comidas muito calóricas e gordurosas.